quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Oficina Litarária 2

Segunda aula, segunda ida à Santa Cecília, e não mais agradável as duas horas difíceis para atravessar os quilômetros que separam a Vila Sônia do bairro literário. Você que não conhece a Vila Sônia eu explico, bairro onde moro, erroneamente chamado de Morumbi, bairro que conserva moradores apaixonados que se orgulham do bairro e o mantém verde, mesmo em pequenos cantinhos de quintais onde plantas simbolizam o significado original do nome indígena Vila Sonia, "colina verde". 

Fica há treze quilômetros de Santa Cecília, que diferente da ascensão do nosso bairro, sofreu uma forte evasão, se desvalorizou, mas deixou por suas ruas parte da história da cidade de Sao Paulo, nem sempre reconhecida pelos descontentes transeuntes que repetem o erro do Morumbi ao emprestar o nome do vizinho chique, Higienópolis, mas reconhecido pelos dirigentes da cidade por suas edificações tombadas transformadas em espaços culturais .

Caiu uma tempestade tão forte que se via no vento o movimento da água, pedestres desistiam de seus guarda chuvas retorcidos atacados por robustas gotas. O trânsito de São Paulo que às seis já é ruim, tornou-se desastroso, aumentando minha aflicao. 

A aula teve tom de aula, passadas as honras do primeiro dia fomos direto ao trabalho teórico, uma explanação completa dos gêneros literários. Lembramos textos ruins, que nos fizeram muito bem e lemos textos terrívelmente bons, provisionando que chegar lá poderá não ser nesta vida.

Tinha até alunos novos, desistência nula, um sucesso. Mas foi já na segunda aula que a fragilidade dos novos autores apareceu na pele como brotoeja, desafiando o afinco de voltar para o teclado, ensaiar. Todos da classe já se haviam lido, encontramos platéia crítica, perdemos o anonimato, mas seguimos adiante percebendo que o processo é esse! Um jovem garoto, João, me procurou para dizer que gostou do que escrevi, me senti uma adolescente pairando no ar.

Hoje meu texto é curto, para poupar os que se dedicaram ao longo texto de estréia, aliás muito obrigada, especialmente à você João que assim como eu esta vivendo uma notoriedade indesejável e necessaria.

Seguiremos escrevendo.










segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Oficina Literária




Faz pouco tempo me inscrevi num curso de criação literária em Santa Cecília, ficava num casarão antigo  atrevidamente pintado de amarelo ovo com batentes e peitoris destacados em preto, no final da rua Jaguaribe. 
Disse-me, uma senhora de olhos expressivos que trabalhava na recepcao, que eu deveria ser breve, afinal, faltava dois minutos para exceder o prazo de entrada em sala de aula. As mãos da secretária fumante moviam-se apenas para abocanhar o cigarro, num gesto brusco entre uma e outra baforada lançou sobre o balcão um calhamaço de folhas e pediu que eu as assinasse voando, pois ela teria que se ocupar de chamar os alunos no patio. Acima da assinatura, no papel bem redigido, figurava os quatrocentos reais da mensalidade acrescidos de cento e vinte do material escolar e saltando aos olhos, uma cláusula citando a impossibilidade da devolução do dinheiro em caso de desistência. Apavorada, me apressei em assinar o contrato, prevendo que perderia o dinheiro mas sem deixar de reservar alguns segundos para perguntar-lhe sobre as cores da casa. - Desculpe senhora, porque a casa tem essa cor tão expressiva? A secretária me olhou estática, sem acreditar no imprevisível interesse e disparou a descrever os detalhes da casa de shows que ali funcionara em outros tempos. - Entre nós, um inferninho, sussurrou, onde trabalhei por seis anos! Ao se debrucar sobre o balcao para pegar os papéis assinados, percebi no decote os seios de outros tempos, hoje indignos, que serviam apenas para balançar pesadamente sobre os ombros a causar-lhe no minimo dores lombares. Aos passos da caneta, contou que ao invés de vermelho usaram o amarelo nas paredes para aparecer melhor durante a noite. Alertei sobre meu atraso e sai em busca da classe que eu não freqüentaria.

O professor que intimidava  todos com ares de sensualidade mais evidente do que de simpatia em si, me convidou a entrar na sala sem antes esclarecer a todos sua insatisfação em receber um aluno atrasado. Todos se apresentaram e ao discursar para trinta jovens inexperientes, tímidos, receosos de seus textos e que não poderiam ter de volta o dinheiro investido, o belo professor apresentou o conteúdo do curso destacando os pontos chave: seríamos criticados pesadamente, não se admitia boa intenção apenas talento e que tempo é precioso, nao o perderia desnecessariamente. Por conta da tal inequívoca cláusula financeira, acreditei que meus colegas se dariam uma chance a mais antes de sair correndo dali, depois que o primeiro levantou houve uma debandada geral, depois do intervalo metade das pessoas já não apareceram e na segunda aula eu não soube, porque também eu, não fui. Voltei à rotina sem meu curso de literatura e com a sensação de que escrever se aprende escrevendo. 

Nos primeiros dias deste ano, durante os meses que nos prometemos experiências novas e felizes, encontrei na internet um novo curso de literatura em Santa Cecília, parece que só há cursos de literatura em Santa Cecília. Este aparentava mais cuidado, exigia um texto para a seleção dos alunos (forma mais digna de dispensar os bem intencionados), era gratuito, além de se intalar num lindo casarão bege, de batentes e peitoris azuis claro onde morou Mario de Andrade. Seu piano continuava na sala principal.

Na porta, um poema que destacava a paixão do poeta pela velha rua Lopes Chaves, ao chegar, fui bem recebida e atendida por uma moça educada que fumava muito, mas falava pouco. O curso começou com um bate papo e aos poucos os alunos ganhavam confiança, autorizados pela professora. Foi que no primeiro dia de aula, estou eu escrevendo minhas primeiras palavras publicadas, na internet, é verdade, mas visível publicamente. Escrever é mais que escrever, é ter o compromisso de ser lido, nos ensinou a jovem professora brilhante. Ainda identifico apenas minha experimentacão, mas saberei logo das minhas possibilidades, pois assim como meu primeiro professor, o leitor não tem tempo a perder. 
Por ora a felicidade de um iniciante, a professora que ri das próprias piadas e q nos desafia desconsiderando regras nos fazendo experimentar, e nossas primeiras letras, espero não muito doída a quem chegou até aqui.